domingo, fevereiro 25, 2007

Volta às aulas



Eu queria derrubar a escola do meu bairro.

Segunda feira agora meu irmãozinho vai entrar na escola. Assim como milhares e milhares de outros, ele estará ingressando neste mundo mágico da infância, onde cada descoberta é compartilhado com os amiguinhos do dia a dia, os parentes e conhecidos. Tudo o que ele conhece de novo ele compartilha. E a influência destes novos conhecimentos vai ser decisiva para o resto de sua vida.

Assim como eu já fiz, ele vai dar o primeiro passo rumo à sociedade. E eu estou morrendo de medo desse momento. Não por causa dele, mas porque infelizmente ele vai ser condenado (sim, este é o melhor termo que encontrei) a cumprir esta etapa da vida em uma escola pública.

Esta escola, que conheço muito bem porque trabalhei lá e cumpri pena como estagiário é um desastre organizacional em todos os sentidos. Não por causa dos alunos, que são ótimos, nem por causa das famílias da comunidade, que lutam pela educação de seus filhos, nem culpa da direção ou dos professores, que são preparados e estão sempre prontos a lutar por melhorias na escola. Pensando melhor, é culpa de todos eles sim, que deixaram acontecer o que hoje aflige nossa comunidade. São apáticos, sem desejo de melhoria ou mudança, sem perspectivas e incapazes de valorizar a importância do passo que meu irmão está prestes a dar rumo à integração em nossa sociedade. Bem diferente do ambiente em que eu vivi e tive minha educação.

Entrei no período de redemocratização na escola. Parece-me que nunca existiram tantas escolas reformadas ou construídas como neste período. Pensava-se em um projeto novo de país, diferente daquele modelo imposto pelos anos de ditadura: uma nova proposta de educação, uma nova sociedade nascida deste projeto. Tudo muito simples, mas eficiente. Professores qualificados, salas de aula limpas, um pouco de disciplina e muita disposição para aprender. Um retrato daquela sociedade, que estava aprendendo ela também a caminhar com as próprias pernas ( e não é este o papel da educação?).

Mas o que temos hoje em mãos?

Uma escola sucateada, material e humanamente falando.

E aí é que caiu a minha ficha: nesse país, não é a educação que dá voto.

É a construção do prédio escolar.

Quando vejo as datas de construção destas mesmas escolas, percebo que são as mesmas datas anteriores às eleições do período. Prefeitos e governadores disputavam lugar no palanque de inauguração como os alunos iriam fazer na fila da merenda. A minha escola era bonita e bem cuidada, mas estava condenada a cair por si mesma. Por que inauguração de escola nova é interessante, mas reforma não chama a atenção. Nessa sociedade imediatista e que só admira empreendedores, manutenção e trabalho duro de acompanhamento e fiscalização do andamento do bem público não traz fama pra ninguém. Nossos líderes políticos estão mais próximos de engenheiros e arquitetos, projetando novos rumos, do que de administradores, mantendo o funcionamento da máquina que eles e outros criaram. E isso vale na esfera educacional. O que fazemos de melhor é aplaudir novas coisas, e esquecemos do valor das antigas.

Por isso, creio que o melhor a fazer seria derrubar de uma vez aquele bendito colégio. Poderíamos então construir um novo e chamar o prefeito e alguns vereadores para a inauguração. Daqui a dez anos ele cairia, e o ciclo recomeçaria. E quem sabe, nesse meio tempo, evitaríamos de estragar milhares de crianças que tiveram a infelicidade de estudar por aqui, e saíram condenadas a consertar os erros daqueles que deveriam zelar por elas.

sábado, fevereiro 10, 2007

Jacu City em perspectiva - Educação como ferramenta de transformação, mas essa é só minha opinião e quase todo mundo não concorda




Segundo o jAcú Notícia "Contra dados não há argumentos. A educação, considerada a grande arma para acabar com a desigualdade social, contribui para manter tudo como está ao se avaliar o resultado do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) 2006. Na corrida pelos melhores lugares, a minoria capaz de enfrentar as mensalidades da rede privada está cada vez mais à frente da ampla massa do sistema público. Em Joinville, os 513 estudantes de escolas particulares - na melhor marca - obtiveram nota 64,35, enquanto os 1.808 estudantes das unidades públicas alcançaram 47,82, no melhor resultado do exame no índice de zero a cem".
O Enem é uma ferramenta federal para avaliar o ensino médio das escolas espalhadas por todo o país. Dessa forma, é possível cumprir ações de reparação nas regiões em que o exame detecta anomalias, como resultados muito abaixo da média. O governo federal estaria apto a intervir, caso fosse preciso, na educação local.

Então, o que eles estão esperando? Por que a apatia? Por que o conformismo por parte da pais e alunos, sem falar nos profissionais da educação.

A apatia governamental resume-se em poucas frases. Formar um aluno no Ensino Médio leva 12 anos. Formar um em nível superior, 16. Um mandato de deputado ou presidente, vereador ou prefeito é de apenas 4 anos. Não dá tempo de inaugurar. Sem inauguração, não tem eleição. Fazer uma escola grandiosa rende votos, equipá-la, não. Aliás, é muito caro equipar. Livros custam caro. equipamentos de laboratório são caros. Formar um professor é caro e mantê-lo produtivo também é. É a velha batalha do curto prazo versus longo prazo, presente na pesquisa científica e na exploração de novas tecnologias. Políticos são de curto prazo. Políticas educacionais tem que ser de longo prazo.


Quanto aos pais, estes estão tão saturados com a realidade que os cerca e tão obstruídos pelos pequenos problemas que não enxergam a educação como meio de crescimento pessoal para si e seus filhos. São poucos os que se interessam pelo tema, e menos ainda os que acompanham o dia dia da escola e de seus filhos. Educação é crescimento, e a criança e o jovem passam apenas uma pequena parcela deste período efetivamente na escola, pouco mais de 1/6 de seu tempo. Sem a presença efetiva dos pais, fica complicado administrar esse pequeno tempo para a função educacional. Também é bom lembrar que os pais são sempre a maioria numericamente falando, são os maiores interessados (depois dos próprios alunos) e assumem o mínimo possível de responsabilidades. Deles é o papel principal, e o mais difícil: cobrar, dos filhos, uma atitude de valorização do processo educacional, dos professores, diretores e demais 'ores' da escola o cumprimento das metas estabelecidas, dos PCNs, dos PPPs, e outros Ps, e claro, dos políticos, a criação de mecanismos eficientes de promoção da educação.

Já os professores, estes parecem sempre em equilíbrio entre a manutenção dos privilégios de que muitos incompetentes e malpreparados gozam e a necessidade de valorização do profissional. Todos sabem o que fazer, mas não tem as ferramentas. Ferramentas não são acessórios opcionais. São essenciais. Sala de aula equipada não é privilégio, é necessidade. Biblioteca não é opção, é básico.

Claro que tudo isso é a minha visão de como deveria ser a educação em Jacú Nation. Se ela está de outra maneira, é porque a maioria absoluta da população não concorda comigo. E como a maioria vence nas eleições... bem, num país que reelege Paulo Maluf e dá ao bandido im(p)unidade parlamentar, não é de se esperar grande coisa. Educação liberta. Falta de discernimento mata. Contra dados, não há argumentos.