segunda-feira, março 27, 2006

Manual do Usuário do Sistema Integrado de Transporte Coletivo Urbano de Jacú City




Devido aos dezenas de milhares de e-mails e cartas iradas para esta redação, indignados com o fato extremo deste colunista ter se atrevido a andar de Pega Fácil, estamos disponibilizando aos usuários do Outro sistema um manual de sobrevivência.

Unidade Um - Preparativos para esperar a condução

1)Ao acordar, às duas da manhã, você toma café, se arruma e vai esperar o zarco no ponto mais próximo. Após quinze minutos de espera, você dispara esta para o coitado que está ao seu lado:

a) Esta merda de ônibus sempre demora assim, é?
b) Sabe aonde têm algum ponto de moto-taxi?
c) Juro que este ano ainda eu começo o consórcio de uma Titan.

2) Às seis horas da tarde o Paranaguamirim via Rio Velho passa em seu ponto e não para. Atrás dele, vêm o micro-ônibus que faz a linha do Morro do Amaral, socado até não poder mais. Ao chegar ao terminal do Itaum, você vai:

a) Ao banheiro vomitar.
b) A cabine do porteiro, que não tem nada a ver com a história, reclamar.
c) Correr pra não perder o João Ramalho, que é o último, e depois só 9 horas.

3) Ao chegar no ponto, o ônibus já está apontando lá na rua quando você percebe que esqueceu de desligar o secador de cabelos da tomada. O que você diz pro motorista?

a) Segura um pouquinho que eu vou ali no bar trocar esta nota de 50 e já volto;
b) Bom dia, dá pra esperar um pouquinho enquanto eu vou lá em casa desligar o secador de cabelos?
c) Se não esperar, eu te entrego.

4) Uma velhinha de oitenta anos pede a sua ajuda para carregar o rancho do mês, já que ela não paga passagem e pode comprar tudo lá no Angeloni. Você:

a) Entra com as compras da velhinha pela porta de trás, e já fica por ali.
b) Desculpa-se com ela, mas seu ônibus é o outro, que vai pro lado oposto da cidade.
c) Manda a velha se catar, deixar de ser Jacú e passar a comprar no seu bairro, em vez de ficar passeando de ônibus pela cidade, sobrecarregando as empresas de transporte coletivo e o bolso do usuário pagante.

Unidade Dois - Durante a viagem

1) Um senhor de cerca de noventa anos, cego, surdo, mudo, paralítico e esclerosado entra no ônibus, e o único banco vago para portadores de necessidades especiais é aquele que você ocupa. Você:

a) Vira pro lado, começa a roncar e até baba.
b) Tira um livro da mala e finge que lê até o final da viagem.
c) Começa a discutir com os outros passageiros sobre a palavra preferencial, que designa o seu assento, e convece a todos que a preferência é sempre de quem chega primeiro.

2) O ônibus está abarrotado até o teto, e você está sentado lá na frente, precisando descer no próximo ponto. Você:

a) Fala com o motorista, solta dois real na mão dele e desce pela frente mesmo.
b) Passa a catraca, empurra meio mundo e vai dizendo: vamo dá um passinho pra trás, por favor...
c) Desce quando o ônibus voltar, já que ele é circular.

3) Seis horas da tarde, terminal do centro, nada de aparecer o Tupy Norte que vai levá-lo para a Unicú. O que parecia ser uma espera solitária torna-se um inferno quando umas duzentas pessoas esperam pela mesma condução. Como conseguir um lugar DENTRO do ônibus?

a) Abre os braços e fica acompanhando o movimento do ônibus, enquanto o FDP do motorista manobra;
b) Mete a mãozona no corrimão e já vai entrando, sem esperar pela descida dos demais passageiros;
c) Não entra e pega o Linha Direta que para logo atrás, e ainda por cima não avisa ninguém, que é pra esse povo parar de ser jacú.

4) Lugar de bilhete usado é:

a) Na janela.
b) No chão.
c) Em casa, sou colecionador.

5) Qual destes itens é proibido consumir dentro de um ônibus lotado?

a) Tangerina.
b) Sorvetão Americano.
c) Biluzitos.

6) Qual o pior horário para se utilizar do sitema de transporte coletivo, devido à sua precariedade?

a) Entre 1 hora e 4 horas da manhã.
b) Entre 4 horas da manhã e meia noite.
c) Ambas as alternativas estão corretas.

7) Quem deveria pagar pelo passe livre dos estudantes? (essa é pro MJD)

a) O Bogo e o Harger (há, há, há...).
b) A prefeitura Municipal, em parceria com o governo Estadual e a União (há, há, há...).
c) Se é livre, porque pagar?

Esperamos que este singelo questionário tenha resolvido suas dúvidas mais freqüentes sobre o Sistema Integrado de Transporte Coletivo Urbano de Joinville. Em breve, teremos um manual de sobrevivência do ciclista, se o demolidor da moral deixar de ser vadio e escreve-lo.

terça-feira, março 21, 2006

Eu andei de Pega Fácil!




Nesta semana, enquanto resolvia meus problemas estagiais (vide verbete Iara), passando pela avenida JK (aquele da Globo), no centro de Jacú City, já próximo ao ponto onde aguardaria minha tão sonhada condução, que me levaria ao mundo de conhecimento e informação da zona Norte, a Unicú, percebi a aproximação sorrateira de um veículo de tranporte seletivo: o Pega Fácil. Inconscientemente, ergui a mão direita, e qual não foi minha suspresa ao ver o ônibus parar ao meu lado e abrir a porta!
Emocionado, adentrei nos degraus que me separariam definitivamente daquela metade da humanidade que utiliza-se de transporte coletivo convencional, apertado, quente e demorado, e me vi num ônibus vazio, com som ambiente, ar condicionado, umas poltronas vagas e até cortinas. Era o início de uma viagem sem volta rumo ao mundo dos Jacús, do qual orgulhosamente faço parte agora, como membro honorário da confraria que utiliza-se do sistema seletivo.
O que mais chama a atenção dentro do Pega Fácil é a ausência de linhas cortando os bairros ditos periféricos de Jacú City: não existe nenhum zarco ligando o Panagua ao Espinheiros ou o Itinga ao Morro do Meio, por exemplo. Apenas alguns bairros habitados pela classe média jacutiana têm acesso a tão singular serviço de transporte. A estes, ouvintes e admiradores de Beto Gebailli, destina-se esta maravilha do sistema de trasporte de Jacú City. Isto comprova a minha tese de que a cidade precisaria de dois museus de Imigração para contar a história de sua gente: um, o museu Nacional de Imigração e Colonização, onde se veria tudo aquilo que se relaciona com a história dos usuários do transporte seletivo; o segundo, o MIP, destinado àqueles que utilizam-se do sistema convencional, incluindo-se aqui o Linha Direta seis horas da manhã e as barras circulares.
Outra característica admirável de tal empreendimento dos transportes é a ausência de locais de paradas específicos, onde se aglomerariam os espectantes usuários do sistema. Vale lembrar que ponto de parada com aglomeração só para aqueles que esperam os velhos fretamentos que ligam a esquina de sua rua ao seu local de trabalho. Qyem utiliza o pega Fácil não quer ser confundido com quem espera o fretamento da Embraco às duas da manhã, encostado no poste da esquina com mais uns quinze camaradas.
Por fim, vale lembrar que o valor da tarifa não é tão alto assim, apenas 2,40, o mesmo preço da passagem embarcada de quem utiliza-se do sistema convencional. Assim, você Jacú, que todo santo dia esquece de comprar a passagem antes de adentrar no ônibus, poderia utilizar o transporte seletivo, andar com seus semelhantes, e viver, assim como eu, um dia junto à metade superior da humanidade, nem que seja dentro do ônibus.

segunda-feira, março 13, 2006

Afinal de contas, o que faz de um Jacú, jacú?


Recentemente, a imprensa brasileira buzinou acerca do episódio envolvendo um general brasileiro, Francisco Albuquerque, acusado de utilizar o seu 'cargo' para evitar a decolagem de um jato da TAM, retirar um casal de passageiros do avião e embarcar em seu lugar. Muito foi dito sobre o assunto: que o general utilizou de sua pretensa autoridade para conseguir favores da empresa aérea, que a empresa aérea errou ao ceder à pressão do mesmo, que este tipo de atitude é típica dos tempos ditatoriais, e não têm lugar em um país democrático e civilizado como o Brasil. Estou certo? Errado! O general agiu como um defensor da cultura Jacú; ele não foi prepotente, foi Jacú; não utilizou de pressão espúria para conseguir o que queria, mas antes agiu conforme a milenar cultura Jacú, que permeeia toda a existência de um verdadeiro cidadão de Jacú City.
Por isso, esta publicação defende que o senhor general seja declarado Cidadão Honorário de Jacú City. Aqui em nossa amada cidade, ele se sentiria em casa. Ao demonstrar toda o seu comprometimento com a defesa dos valores e da cultura Jacú, Francisco Albuquerque fez juz à sua indicação a tão meritório título.
Um verdadeiro Jacú nunca pensa nos outros, ou na consequência de seus atos, e nisto o general demonstrou ser perito. Um verdadeiro Jacú é imediatista, não respeita horários, não subordina-se a regras, não considera nada ou ninguém que não seja ele mesmo ou seus próximos. Um verdadeiro Jacú não sabe que o mundo mudou, considera-se a metade superior da humanidade, a quem nada é proibido e tudo é permitido. Além do mais, um verdadeiro Jacú jamais deixaria que um simples probleminha atrapalhasse sua vontade única e soberana: sempre dá-se um jeito. O verdadeiro Jacú leva vantagem em tudo, ainda que para isso tenha que subverter a lei e a ordem, tenha que roubar, mentir, matar, enganar. Um verdadeiro Jacú não aceita que existam outras pessoas no mundo, com direitos que cerceiam os seus, pois ele é o centro do mesmo e não pode admitir limites. Por fim, o verdadeiro Jacú é produto de quatro décadas de crise de valores, onde a lei ou a autoridade são vergonhosas para aquele que a exerce.
Num mundo onde todo e qualquer valor tradicional perde o sentido, é estranho que as pessoas sintam-se atingidas quando um destes valores é transgredido por alguém. Derrubamos todos os limites, em nome da liberadade, mas descobrimos que esta liberdade não nos trouxe mais felicidade. Vivemos com medo, porque permitimos que aqueles que transgridem as regras de convivência andem impunemente. E fazemos isto em nome de uma liberdade que parece só existir para os jacús.